NOVA YORK (Reuters Health) - As pessoas com autismo focalizam os olhos do interlocutor com metade da frequência que outros ouvintes e deixam seu olhar dirigir-se mais à boca ou ao corpo da outra pessoa, relatam pesquisadores norte-americanos. Esse comportamento pode ajudar a explicar por que autistas costumam ter problemas para se relacionar, de acordo com Ami Klin e colaboradores da Universidade Yale em New Haven, no Estado de Connecticut, nos EUA.
Os olhos fornecem "pistas" importantes e silenciosas sobre o que alguém pensa e sente, segundo os pesquisadores. Às vezes, a informação obtida a partir do olhar pode contradizer o que o interlocutor diz. Focalizar a boca em vez dos olhos, portanto, pode fazer com que os autistas percam certas nuances da comunicação, podendo levar a dificuldades nas interações sociais, afirmou a equipe coordenada por Klin.
A diferença nos padrões do olhar entre autistas e não-autistas aparece cedo: já na infância, os bebês sem autismo começam a focalizar as pessoas mais constantemente do que os objetos, e seus olhos permanecerão concentrados por um período mais longo nos olhos de outra pessoa do que na boca.
Medir onde está focada a atenção de um bebê, portanto, pode permitir aos médicos diagnosticar o autismo nos primeiros meses de vida. E quanto mais cedo o problema é diagnosticado e tratado, afirmam os pesquisadores, melhor para o desenvolvimento do paciente.
Klin e colaboradores obtiveram suas conclusões a partir de 15 homens autistas e 15 saudáveis, observando-os enquanto assistiam a cenas de interações sociais intrincadas do filme "Quem tem Medo de Virginia Woolf".
Os autores empregaram tecnologia de rastreamento do olhar e determinaram quanto tempo os observadores passaram olhando para a boca, olhos e corpo do interlocutor e quanto tempo se concentravam em objetos inanimados.
Os pesquisadores descobriram que as pessoas com autismo concentravam-se nas bocas, corpos e objetos com frequência duas vezes mais alta do que os não-autistas, mas focalizavam os olhos com apenas metade da frequência quando comparados ao grupo controle.
Relacionando os padrões do olhar com a competência social, os autores também descobriram que o bom desempenho de um indivíduo autista em situações sociais estava ligado à proporção de tempo que passou olhando a boca do interlocutor. Os indivíduos socialmente mais competentes tendiam a concentra-se mais constantemente na boca.
Em contraposição, quanto mais tempo um autista passou focalizando objetos durante as cenas mais emotivas do filme, mais propenso estava a ter dificuldades em situações sociais, relatam os pesquisadores em uma edição recente dos Archives of General Psychiatry.
Os olhos oferecem uma grande diversidade de "pistas" sociais sutis, assim o fato de os autistas que tiveram um melhor desempenho social concentrarem-se mais na boca dos interlocutores parece contraditório -- mas pode também fazer sentido, explicaram os autores do estudo.
"Considerando-se a conhecida associação entre os níveis de habilidades verbais e os melhores resultados no autismo, é possível que os voluntários do estudo estivessem focalizando a boca do interlocutor porque é de onde vem a fala", relatou a equipe de Klin.
"Concentrando esforços em algo que possam entender, podem ter uma compreensão melhor das situações de interação social", acrescentaram os cientistas.
Entretanto a técnica também "possui suas limitações", indica o estudo, ao impedir que os autistas obtenham certas nuances de comunicação vistas apenas nos olhos de quem está falando.
Fonte: Archives of General Psychiatry ; 59: 809-816.
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